segunda-feira, 31 de maio de 2010

O DESABAFO DE UMA BOLA.

Você me conhece? Eu sou a JABULANI, fui concebida para ser a maior atração de um evento mundial. O meu nome tem origem no dialeto Zulu e significa: Celebração. Sou toda colorida. Onze são as minhas cores e todas elas representam os dialetos e etnias do povo, sul africano. Já sabe quem sou eu? Muito prazer, eu sou A BOLA DA COPA.

Sou a “Top Model” do mundo futebolístico. Guardo na minha estrutura as mesmas características de minhas antepassadas. O mesmo peso, o mesmo tamanho. O que me difere das outras é a composição e a ligação das células de meu corpo esférico. Não tenho costuras sou totalmente impermeável, minha textura torna-me mais rápida. Sou de paz, quase não tenho atrito. Sou por assim dizer fruto de uma tecnologia avançada.

E mesmo assim não sou feliz. A copa nem começou, e eu já sou a causa de discórdias junto à exatamente daqueles que deveriam ter por mim o maior carinho. Quanta ingratidão. Eu que pensava que ao som das vuvuzelas desfilaria de pé em pé, pelos verdes gramados da África do Sul, sendo chamada de meu amor, estou sendo considerada uma mera mercadoria de supermercado. Uma patricinha sobrenatural.

Que inveja eu tenho das outras que embalaram os sonhos e as conquistas de um Pelé, de um Mané, de um Maradona, de um Zidane, de um Baixinho oportunista que insistia em tratá-las como peixe, vivia jogando-as na rede. Tenho inveja também, daquela que sorrateiramente venceu a pericia do grande Barbosa e transformou uma festa de 200 mil convidados em um velório. Tenho inclusive inveja daquela que numa tarde cinzenta do Sarriá, nos pés do Paulo Rossi, mudou a história do futebol mundial.

Mesmo nova eu já sonhava em ser feita pelo homem, parceira e cúmplice de seu destino. Ah quanto eu queria ser cantada em prosas e versos pelo mestre Armando, que dizia que Pelé era tão perfeito, se não tivesse nascido gente, teria nascido bola. Eu que nasci bola gostaria de ter nascido Pelé.

Estou triste, magoada, decepcionada, mas, no fundo das minhas entranhas, ainda me resta um fio de esperança, o meu momento vai chegar. Tenho certeza que no apito do arbitro, quando eu começar a rolar, eles vão sentir toda a minha magia, os meus movimentos, e vão descobrir toda a harmonia e todo o equilíbrio do Universo, brincando comigo.

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